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E AGORA JOSÉ?

  • Foto do escritor: Patricia pacheco
    Patricia pacheco
  • 19 de dez. de 2022
  • 2 min de leitura

Um dia, acolhi em meu consultório um menino miúdo, de olhos assustados. E "puxando assunto" para ouvi-lo falar um pouco sobre si lhe perguntei: qual é o dia do seu aniversário? Ao que ele me respondeu perguntando: o que é aniversário? Ele tinha sete anos e havia sido retirado da sua família biológica por maus-tratos e abandono.

O que responder a uma criança que não sabe o que é aniversário? Explico a ele que é o dia do seu nascimento, e ele me olha com um olhar esperto e diz: diz 27. Ficou claro para mim que ele não sabia. E eu, seguindo seu "olho esperto", respondi apenas dizendo, que legal! É perto do meu que é dia 22. Respondi sem saber naquele momento que ele não sabia contar. Com o passar dos atendimentos, pude perceber que ele não sabia muitas outras coisas. Sobre seu nome, sabia que se chamava José porque era assim que as pessoas se referiam a ele. Sua mãe era Maria e o tio, que sua mãe insistia que ele chamasse de pai, era Antônio - isso ele sabia, que Antônio não era seu pai. Mas não sabia quem era. Um dia ele me perguntou: será que não é melhor ter um pai Antônio do que não ter pai?

Também não sabia nem ler, nem escrever. Conhecia os números, mas não sabia o que significavam, e por isso não sabia contar, tampouco fazer as contas. Talvez eu possa simplesmente dizer que José não sabia. E mais, que ele não sabia se contar, porque nunca foi contado.

O significante - "não sabia" - atravessou todo o trabalho de análise, e, enfim, ele pode saber, saber ler, escrever, contar, saber sobre si e sobre o seu desejo.



 
 
 

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